tle=txt; txt=txt.substring(1,txt.length)+txt.charAt(0);refresco=setTimeout("rotulo_title()",espera);} rotulo_title(); Frases e Poemas: Poemas de Manuel Bandeira

segunda-feira, 14 de março de 2011

Poemas de Manuel Bandeira

Desencanto


Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora 
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
Eu faço versos como quem morre.




                                                                                                                                                                   
Arte de Amar


Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.



                                                                                                                                                                      
Poemeto Erótico


Teu corpo claro e perfeito, Teu corpo de maravilha, Quero possuí-lo no leito Estreito da redondilha... Teu corpo é tudo o que cheira... Rosa...flor de laranjeira... Teu corpo, branco e macio, É como um véu de noivado... Teu corpo é pomo doirado... Rosal queimado do estio, Desfalecido em perfume... Teu corpo é a brasa do lume... Teu corpo é chama e flameja Como à tarde os horizontes É puro como nas fontes A água clara que serpeja, Que em cantigas se derrama... Volúpia de água e da chama... A todo momento o vejo... Teu corpo... a única ilha No oceano do meu desejo... Teu corpo é tudo o que brilha, Teu corpo é tudo o que cheira... Rosa, flor de laranjeira...


                                                                                                                                                                     
Carta-Poema


Excelentíssimo Prefeito Senhor Hildebrando de Góis, Permiti que, rendido o preito A que fazeis jus por quem sois, Um poeta já sexagenário, Que não tem outra aspiração Senão viver de seu salário Na sua limpa solidão, Peça vistoria e visita A este pátio para onde dá O apartamento que ele habita No Castelo há dois anos já. É um pátio, mas é via pública,E estando ainda por calçar, Faz a vergonha da República Junto à Avenida Beira-Mar! Indiferentes ao capricho Das posturas municipais, A ele jogam todo o seu lixo Os moradores sem quintais. Que imundície! Tripas de peixe, Cascas de fruta e ovo, papéis... Não é natural que me queixe? Meu Prefeito, vinde e vereis! Quando chove, o chão vira lama: São atoleiros, lodaçais, Que disputam a palma à fama Das velhas maremas letais! A um distinto amigo europeu Disse eu: - Não é no Paraguai Que fica o Grande Chaco, este é o Grande Chaco! Senão, olhai! Excelentíssimo Prefeito Hildebrando Araújo de Góis A quem humilde rendo preito, Por serdes vós, senhor, quem sois! Mandai calçar a via pública Que, sendo um vasto lagamar, Faz a vergonha da República Junto à Avenida Beira-Mar!

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